Ativação Comportamental para combater sintomas depressivos - Comportamentos mudam sentimentos.
- Maicon Zimmermann

- 5 de jun.
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Atualizado: 9 de jun.

A tristeza - que muitas vezes pode se prolongar e tornar-se um transtorno depressivo - nos impulsiona ao isolamento, à perda de entusiasmo, à negatividade e a à falta de prazer com atividades que antes eram prazerosas. Pessoas depressivas normalmente caem em um ciclo de inatividade que se retroalimenta: A tristeza causa desmotivação -> por falta de motivação a pessoa deixa de fazer atividades que trazem prazer, senso de realização ou de alguma forma são benéficas para si -> a falta destas atividades gera mais tristeza e desmotivação... O ciclo se repete criando uma espécie de jaula que parece não ter saída.

É como se a "bateria" da nossa vida fosse descarregando e a gente não conseguisse mais conectá-la na tomada. Quanto menos fazemos, menos contato temos com o que é bom no mundo, com o que nos dá energia, com o que nos senso de utilidade e nos gera bem estar. Essa perda de reforço positivo é um dos pilares da manutenção da depressão.
E se eu te disser que existe saída para esse cárcere? A Ativação Comportamental (AC) é uma abordagem terapêutica relativamente simples e eficaz para quebrar o ciclo depressivo. Hoje a AC é um tratamento de primeira linha para a depressão com eficácia comprovada por diversos estudos robustos.
Como funciona a ativação comportamental?
O objetivo principal da AC é gerar a melhora do humor por meio do rompimento do ciclo de inatividade conectando o paciente com atividades que sejam recompensadoras - atividades que tenham o potencial de gerar prazer, bem-estar e estejam alinhadas com o que é significativo para o paciente.
A depressão instala uma grande armadilha mentindo que "precisamos estar motivados - ou seja, ter vontade ou se sentir bem - para fazer algo". Porém, a verdade que a psicologia já desvendou é que a ação vem primeiro e a motivação depois. Em vez de esperar se sentir melhor para voltar a fazer as coisas, no tratamento com Ativação Comportamental a pessoa é encorajada e auxiliada a começar a fazer pequenas atividades (mesmo não se sentindo bem). Essa atitude vai rompendo com o ciclo de inatividade e melhorando o humor gradualmente.

O ponto chave da ativação comportamental está em quebrar o ciclo vicioso depressivo e cultivar um ciclo virtuoso. Neste novo ciclo comportamentos geram sentimentos melhores e desenvolvem a motivação: fazer atividades (significativas e/ou prazerosas) mesmo sem motivação gera contato com recompensas intrínsecas ou extrínsecas -> as recompensas tem potencial para gerar melhoras no humor -> a melhora do humor contribui para o aumento da motivação -> o aumento da motivação auxilia na realização de mais atividades -> a realização de atividades gera contato com recompensas -> as recompensas melhoram o humor... Esse ciclo virtuoso quando repetido tem o potencial para a melhora dos sintomas depressivos.
A Ativação Comportamental é realmente eficaz?
A Ativação Comportamental (AC) tem sua eficácia comprovada por estudos robustos, demonstrando ser uma abordagem altamente efetiva no tratamento da depressão. Pesquisas, como o estudo pioneiro de Dimidjian (2006), revelaram que a AC é tão eficaz quanto medicamentos antidepressivos em casos de depressão grave, com a vantagem adicional de reduzir o índice de recaídas. O grande estudo COBRA (2016) reforçou sua aplicabilidade ao mostrar resultados positivos mesmo quando a AC é administrada por profissionais com menor treinamento especializado. Além disso, uma meta-análise de Ekers (2014), que englobou mais de 1.500 pessoas, confirmou sua eficácia significativa, e outros estudos (Hopko, 2011) indicaram que a AC também contribui para a redução da ansiedade frequentemente associada à depressão.
Como são as sessões de ativação comportamental?
Nas sessões de ativação comportamental paciente e terapeuta trabalham juntos em diferentes objetivos para promover a melhora clínica. O plano de tratamento tem métodos para compreender os comportamentos que sustentam a depressão do paciente e para modifica-los, esses métodos podem incluir: Identificar valores e metas do paciente, a programação de atividades potencialmente prazerosas e de atividades que movam o paciente em direção às suas metas, auxilio ao paciente nos primeiros passos para realizar comportamentos recompensadores, técnicas para evitar a ruminação de pensamentos negativos, dentre outras.
Mesmo sendo uma abordagem simples - baseada nos fundamentos de que "ações mudam o humor" e que "a motivação vem depois das ações" - a ativação comportamental repetidamente tem se demonstrado muito eficaz para combater o ciclo da depressão, reconectar a pessoa com fontes de prazer e significado e promover melhorias no humor sem depender exclusivamente de medicamentos.
Cuidado para não confundir a simplicidade dos fundamentos da Ativação Comportamental com papo de coach ou autoajuda. É simples, mas não é tão simples assim: Existem detalhes, exercícios e técnicas que apenas um profissional de saúde treinado na abordagem é capaz de identificar e promover. O tratamento promovido adequado às necessidades individuais de cada pessoa potencializa os resultados positivos.
Referências científicas:
Dimidjian, S., Hollon, S. D., Dobson, K. S., Schmaling, K. B., Kohlenberg, R. J., Gallop, M. A., ... & Jacob, S. (2006). Randomized trial of behavioral activation, cognitive therapy, and antidepressant medication in the treatment of moderate to severe depression. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 74(4), 658–670.
Richards, D. A., Ekers, D., McMillan, D., Taylor, R. S., Byford, S., Warren, F. C., ... & Gilbody, S. (2016). Cost-effectiveness of behavioural activation for depression in adults (COBRA): a randomised, controlled, non-inferiority trial. The Lancet Psychiatry, 3(12), 1149-1158.
Ekers, D., Webster, L., Van Straten, A., Li, J., & Gilbody, S. (2014). Behavioural activation for depression: an update of a meta-analysis of randomised controlled trials. Journal of Behavior Therapy and Experimental Psychiatry, 45(2), 405-412.
Hopko, D. R., Hopko, S. D., Richey, J. A., & Ryba, M. M. (2011). The effect of behavioral activation on anxiety and rumination in a non-clinical sample. Journal of Cognitive Psychotherapy, 25(3), 195-210.



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